Texto: Carolina Engler.
08/03/2021.
Fotografia: David Scherman.
Hoje é dia 8 de março de 2021, Dia Internacional da Mulher. E não dava para a gente aqui do Ateliê Cromo não falar desse assunto! Faremos uma roda de conversa logo mais para refletirmos sobre o espaço da mulher na fotografia, mas resolvi escrever um pouco sobre o assunto também. Outro suporte, outras possibilidades de reflexão...
Estou lendo um livro muito interessante sobre histórias de fotografias famosas (O Instante Certo de Dorrit Harazim) e no capitulo que li ontem falava de Lee Miller, excepcional fotógrafa americana pioneira na fotografia de moda e primeira mulher a ser correspondente de guerra.
A história dela fala muito sobre todas nós... Mulher belíssima começou como modelo para depois optar por uma posição mais ativa na fotografia e ser protagonista das histórias como fotógrafa. Uma das maiores fotógrafas estadunidenses, mas, segundo alguns críticos, seu trabalho não recebeu o devido reconhecimento histórico exatamente por sua beleza. Aqui já temos uma questão que merece atenção: como mulheres sofremos uma enorme pressão para adequação a padrões estéticos, mas ironicamente quem corresponde demais ao padrão estético não é levada a sério (em português mais explícito: se é bonita não pode ser inteligente). Eu mesma já caí nessa armadilha, quando mais moça "achava" que se me interessasse por moda ou fizesse as unhas meu cérebro ia atrofiar... Uma grande besteira, moda é uma forma legítima de expressão e o problema dos padrões estéticos é que eles oprimem a gente, mas se opor freneticamente a todos eles também pode ser bem opressor.
Precisamos reconhecer a importância dessas pioneiras que abriram caminho para nós e é neste sentido que reverenciamos Lee Miller, por nos permitir enxergar que estes espaços também poderiam ser ocupados por nós.
Contudo, ironicamente, escolhemos para este post uma imagem da fotógrafa (que fez inúmeros autorretratos) fotografada por David Scherman. A fotografia é de Scherman, mas seguramente tem uma mão forte da Lee nela... Nesta imagem a fotógrafa se ensaboa dentro de uma banheira, as botas e o uniforme estão ali presentes e um retrato do füher ali ao canto. E a obra se completa no comentário da fotógrafa sobre o episódio: " Lavei a sujeira de Dachau na banheira dele!". Esta imagem traz uma carga catártica, mas também remete a opressão do anti semitismo. Creio que a opressão do anti semitismo, do machismo, do racismo e tantas outras nascem do mesmo lugar. Cada luta tem sua particularidade, mas se tangenciam em muitas questões. "Bora" construir uma rede de apoio?
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